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Postado em 2 de outubro de 2014 Por Em Brasil E 1335 Views

Conferências mostram avanços da ciência em defesa do parto normal

Dois encontros no Rio de Janeiro vão mostrar os avanços na ciência sobre as evidências favoráveis à realização do parto por via natural e menos medicalizado. De 10 a 13 de outubro, será realizada, em Búzios, a 9ª Conferência Internacional – Parto e Trabalho de Parto Normais, dirigida a acadêmicos, pesquisadores e legisladores que trabalham na área de serviços de maternidades. Aberto a cerca de 200 pessoas, o evento terá caráter científico, buscando disseminar pesquisas e enfatizar a melhoria de práticas clínicas, educação, administração, supervisão e desenvolvimento de políticas.
Como desdobramento da conferência, o Rio sediará, em seguida, entre os dias 14 e 16, o encontro Ecos da Conferência – Normal é Natural: da pesquisa à ação, com público ampliado. Os eventos são promovidos pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca(Ensp/Fiocruz), Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras (Abenfo) e Comitê Diretor do evento, formado na University of Central Lancarshire, no Reino Unido.
“O Brasil está em movimento contrário ao do restante mundo, onde se vê um esforço para diminuir o número de cesáreas. Seus malefícios, que não eram muito claros, foram descobertos”, alerta a pesquisadora da Ensp/Fiocruz Maria do Carmo Leal, presidente da conferência, que, pela primeira vez, será realizada em um país da América Latina — o evento ocorre regularmente no Reino Unido desde 2002, tendo sido realizado fora do país em 2010, no Canadá, e em 2012, na China.
Maria do Carmo destaca a importância da troca científica, tendo em vista que a fisiologia do parto normal é assunto não muito estudado no país. Com base na pesquisa Nascer no Brasil, divulgada no final de maio e realizada sob sua coordenação, Maria do Carmo aponta que o índice de cesáreas no país é de 52%. Nos partos financiados pelo SUS, 38,6% foram por cesariana, enquanto na rede privada chegam a 88%. A pesquisa foi publicada no suplemento do volume 30 dos Cadernos de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz).
A pesquisadora ressalta que há predomínio de um modelo de atenção medicalizado, que submete a mulher a intervenções desnecessárias. “A cesárea tem todos os prejuízos de uma grande cirurgia, dificulta a amamentação, a recuperação do parto, diminui e retarda o contato da mãe com o bebê e traz o risco de imaturidade do bebê se for marcada sem trabalho de parto”, enumera, apontando que estudos mostram que na gestação seguinte quem fez cesárea pode ter mais complicação e hemorragia. “Uma intervenção como a cesárea, capaz de provocar um dano, não poderia ser permitida, só devendo ocorrer quando realmente necessária”, observa.
Além de informação e mudanças na formação dos futuros profissionais, entre outras medidas para fazer frente ao cenário, Maria do Carmo destaca a importância da enfermeira obstétrica e da obstetriz, profissionais de nível superior que se preparam apenas para fazer o parto. “Elas são mais expectantes do que intervencionistas. Podem atuar dentro de um hospital e, em caso de qualquer complicação, chamar o médico”.
Maria do Carmo aponta, ainda, que as universidades devem passar a ensinar fisiologia do parto e do nascimento. Atualmente, diz, o ensino é voltado para a cirurgia. Outra frente defendida pela pesquisadora é o empoderamento das mulheres que devem saber o que significa a cesárea, para que possam batalhar por um parto vaginal.
A conferência e seus ecos, em outubro, vão enfatizar o entendimento do parto e do nascimento como eventos que, em geral, transcorrem sem anormalidades, devendo ser cuidados sem a excessiva medicalização – característica do modelo de atenção obstétrica vigente no Brasil. Entre os temas a serem tratados estão a formação obstétrica no Brasil; segurança na assistência ao parto; cuidados imediatos ao recém-nascido; pós-parto e suas implicações; tecnologias não invasivas; parto domiciliar e planejado.
Entre os palestrantes destaca-se a presença de Michel Odent, médico obstetra francês que preconiza a humanização do parto e vai falar sobre O futuro dos seres humanos a partir da maneira como nascemos.
Saiba Mais:
Site da 9ª Conferência Internacional – Parto e Trabalho de Parto Normais
Site de Ecos da Conferência – Normal é Natural: da pesquisa à ação
Pesquisa Nascer no Brasil Cadernos de Saúde Pública, volume 30, maio, suplemento 2014
Radis 117 – Parto e nascimento com cidadania
| Escrito por Liseane Morosini, da Revista Radis, edição de junho de 2014

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