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Postado em 10 de outubro de 2014 Por Em Notícias E 2445 Views

Minha dor e o trabalho: auxiliar administrativo com jornada 12×36 tem alergia por stress

 Auxiliar administrativo trabalhava em jornada 12×36 e o acúmulo de tarefas lhe causou alergia por stress; ela acabou se demitindo

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A série “Minha dor e o trabalho” apresenta a terceira história sobre doenças e transtornos causados por más condições de trabalho na saúde. A auxiliar administrativo Joice* tem 43 anos e trabalhou por quatro anos na saúde. O assédio moral e o acúmulo de funções no hospital em que trabalhava  fez com que ela tivesse manchas vermelhas no rosto, e foi necessário quase três meses para ter o diagnóstico correto.

Leia abaixo o relato:

Eu trabalhava como auxiliar administrativo do hospital há quatro anos, das 13h às 19h durante a semana e das 7h às 19h nos finais de semana [jornada 12x36]. Meu serviço era fazer relatórios administrativos e financeiros do único hospital da cidade, que é particular e atende pacientes do SUS e de outros convênios privados.

Durante a semana, eu fazia os relatórios e os balanços contábeis da área de raio X e de oito especialidades médicas, que atendiam em três consultórios. Tinha que informar sobre os pacientes, quais os exames que cada um fez, qual médico solicitou, quanto custou e como foi pago. Tudo era feito no Excel.

No fim de semana, nós ficávamos em apenas duas auxiliares, então tínhamos que atender também a emergência e a farmácia. Ou seja, além do meu trabalho de sempre, eu tinha que fazer o relatório de cada um dos pacientes do SUS no fim de semana que, durante o meu horário, chegava a 70 pacientes.

A carga de trabalho era intensa, mas meus problemas começaram a surgir no final do ano passado, quando eu fui cobrir férias de um colega. O hospital não contrata pessoas para cobrir férias, então eu tive que mudar de horário: começava às 18h e terminava meia-noite. Neste horário, também ficava na emergência e na farmácia. Era muito trabalho e acabava levando relatório para terminar em casa para não atrasar. Em vez de trabalhar seis horas por dia, estava trabalhando dez!

Foi então que começou o meu problema de pele. Começou com uma mancha pequena perto do nariz, já no começo de dezembro. Primeiro, fui no dermatologista, que pediu exames e biopsia da mancha. Depois, fui me consultar no neurologista, para checar se não era lúpus. Fiz todos os exames e não descobria o que era. Voltei então ao dermatologista e ele diagnosticou que era stress. Tomei corticóide por 30 dias – e acabei engordando seis quilos por causa disso.

O médico disse que a mancha levaria alguns meses para curar. Acabei me demitindo no fim de fevereiro para cuidar da minha saúde e agora estou mais tranquila.

Assédio moral de uma das sócias do hospital

Eu pedi para sair porque não aguentava mais. Além do volume de trabalho, eu e muita gente sofria assédio moral de uma das diretora do hospital. Ela gritava muito, me desequilibrava. Ela não sabe falar com os funcionários e adora humilhar as pessoas. Quando você expunha os problemas, ela não dava muita bola. Eu perdia o controle, perdia a vontade de trabalhar, não dormia mais direito. Minha pressão estava alta.

Por causa desse assédio, dez trabalhadores da área de enfermagem e do administrativo pediram as contas no final de 2012 e foram para hospitais de outra cidade. Ela perdeu excelentes profissionais, alguns com mais de dez anos de casa.

Ela também responde a vários processos trabalhistas. Outra trabalhadora está processando esta diretora por ter sido dispensada depois de ter  lúpus diagnosticado.

Apesar de tudo, não vou processar o hospital. Não sei se estou certa ou errada, mas decidi que não é isso que eu quero. Essa gente persegue, humilha. É gente de poder aqui na cidade. Eles têm outras empresas… Qualquer dinheiro que viesse, não ia pagar a dor de cabeça. Eu quero só que ela esqueça que eu existo.

* nome fictício.

| Escrito por Camila Rodrigues da Silva, assessora de comunicação da Fetessesc.

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