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Postado em 19 de maio de 2019 Por Em Destaque E 373 Views

Milhares nas ruas do país mostram ao governo o que é a verdadeira “balbúrdia”

As ruas despertaram contra o presidente Jair Bolsonaro. Os cortes no Ministério da Educação somados à retórica belicosa do governo contra as universidades, consideradas antros “esquerdistas” e de “balbúrdia”, levaram milhares de pessoas a marchar pelas capitais e médias cidades espalhadas por 26 Estados e o Distrito Federal em manifestação democrática e pacífica. As ruas do país foram tomadas por estudantes, professores, populares, movimentos sociais e sindical que sustentavam seus cartazes e palavras de ordem por uma educação de qualidade, mas também seu descontentamento com tudo que acontece no país desde a posse do capitão. Para os manifestantes, balbúrdia é desrespeitar a educação.

Foi o primeiro protesto nacional contra o presidente de extrema direita que está há quatro meses e meio no poder. A jornada produziu imagens do descontentamento precoce com o Planalto num país que se acostumou desde 2013 a analisar manifestações como um termômetro político. Receberam de Bolsonaro, que está em viagem a Dallas, nos EUA, uma resposta que questionava a legitimidade do movimento e inflamava a polarização. “A maioria ali é militante. Se você perguntar a fórmula da água, não sabe, não sabe nada. São uns idiotas úteis que estão sendo usados como massa de manobra de uma minoria espertalhona que compõe o núcleo das universidades federais no Brasil”, disse o presidente.

Os “idiotas inúteis” estavam em bom número. Segundo a apuração da Confederação Nacional de Trabalhadores da Educação – CNTE, mais de um milhão de pessoas participaram das manifestações. Conforme levantamento do Brasil de Fato na imprensa e nas redes sociais, houve manifestações em mais de 200 municípios.

Bolsonaro faz parte do grupo de políticos que não está habituado a lidar com o contraditório de forma tranquila. Mas ao fazer isso, em um dia de mobilização nacional de um tema simpático à maioria da população, demonstra uma incrível falta de tato. A crítica foi logo rebatida pelos próprios estudantes e professores, além de políticos e celebridades.

O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que também está nos Estados Unidos, foi um dos primeiros a responder a Bolsonaro. Ao site G1, ele disse que educação também é saber ouvir, discutir com respeito e encontrar soluções para os nossos desafios, e isso vale para todos os lados. O Congresso vai fazer o seu papel: ouvir, discutir e apontar caminhos”, disse Maia.

Bloqueio maior desde 2016 – O bloqueio de recursos do Ministério da Educação é o maior desde pelo menos 2016. Foram congelados 31,4% dos recursos discricionários – não obrigatórios, que não incluem folha de pagamento – este ano. Em 2018, essa taxa foi de 8,5%, em 2017 ficou em 16,8% e em 2016 atingiu 6,4%, de acordo com dados do próprio MEC apresentados pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub.

O governo anunciou cortes às universidades que não apresentarem “desempenho acadêmico esperado” e que promovam eventos com “balbúrdia” ou bagunça em suas instalações. As primeiras universidades a terem o orçamento bloqueado, Universidade Federal Fluminense – UFF, a Federal da Bahia – UFBA e a Universidade de Brasília – UnB, sediaram atos contra o fascismo e debates com os ex-presidenciáveis Fernando Haddad (PT) e Guilherme Boulos (PSOL).

O ministro da Educação convocado a depor no plenário da Câmara, indagou se os deputados sabiam o que era uma carteira de trabalho, ofendendo até os parlamentares que estavam lá para apoiá-lo. Ontem, ele fez o seguinte raciocínio: como o país atingiu a meta de professores com mestrado (75%) e de doutorado (35%), pode-se fazer um desvio de recursos. “Na iniciativa privada, quando você supera as metas, você desvia os seus recursos para as metas que estão aquém, que é o ensino fundamental”.

Só que o governo federal financia o ensino superior. As creches e o fundamental são responsabilidade dos municípios. Os estados cuidam do ensino médio. Os casos à parte são os institutos federais, as escolas militares. Segundo a jornalista Miriam Leitão, “se o ministro quer mesmo levar mais recursos para o ensino básico deveria estar debruçado sobre o Fundeb, fundo que foi criado no governo Fernando Henrique e depois ampliado no governo Lula. O fundo é apenas em parte dinheiro federal, mas está com data marcada para acabar e o assunto passa batido como se não fosse o que é: a grande fonte de financiamento da educação nos estados e municípios. Criar esse conflito entre despesas do ensino básico e universitário é falsificar o debate”.

E as manifestações de ontem são apenas o começo, os estudantes já convocaram novos protestos em defesa da educação para 30 de maio. E as centrais sindicais estão programando mobilizações e greve geral para 14 de junho contra o fim da aposentadoria. Agora é esperar para saber o que presidente fará com as mobilizações seguintes, vai xingar abertamente a população ou resolverá o problema?

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